Canso meu corpo como baila minha mente
Sometimes, art is tiring. And I guess there is some beauty on it.
Beleza em estar cansado, me pergunto sobre o assunto enquanto encaro o espelho.
Meu reflexo me olha curioso, é segunda-feira, estou cansado, exausto. Um dia inteiro na rua de trabalho, de correria.
E ainda me pergunto como que devo fazer arte. Como devo criar se o peso do mundo toma conta de meu corpo.
Parece até engraçado, esse mesmo tema me rodeou há 10 anos, quando tentei escrever um conto para uma revista da escola. Escrevi, escrevi e escrevi.
Até que uma ideia se tornou outra, um conto pulou um ponto. E hoje em dia olho para um dos meus contos preferidos e consigo ver e entender exatamente como foi que me apaixonei por escrever contos.
Se importa ou se não importa essa história, arte me permeia e me rodeia, mesmo quando estou cansado. Mas é difícil.
E as vezes que não consigo criar, não consigo desenhar ou o teclado tocar, a música se torna uma saída.
Porque, mesmo que eu não toque, não desenhe e não crie, eu escuto.
As palavras melódicas da música que saem do meu rádio me acompanham, assim como meu reflexo, ainda no espelho, dança.
Deixo-me levar, e me permito então te direcionar e te convidar para um bailareco tão íntimo que os únicos convidados são eu, o espelho e o seu olhar.
Deixe-me guiar e tentar transformar com cada palavra sua leitura em uma dança.
Consegue sentir o ritmo? Consegue ver minhas mãos, uma sob a barriga outra sob a cabeça, lentamente girando em torno de mim mesmo.
Se consigo ou não, é um desafio.
Infelizmente, ou bem felizmente, cada escrita é uma dança que, primeiro, tenho comigo mesmo.
Cada palavra que escrevo é como o tocar de uma nota de um instrumento, pois, mesmo que seja “apenas” um texto, que talvez nem será lido, o bailar de emoções que tento ordenar para no papel colocar soa-me como uma dança lenta, e ao mesmo, tempo errática.
Como o caos que vive dentro da minha paz.
Se escrevo como penso, o tal do fluxo de consciência, penso como danço, como solto meu corpo e deixo-me bailar sob a meia luz da lua de frente a um espelho que há muito não vê um pano limpo.
Levo-me em baboseiras, falo e falo e nada digo, nada canto.
Talvez, algum dia, posso reler o que escrevi e tentar encontrar nexo, sentido, melodia. Por enquanto, encontro só o ritmo ansioso que toma conta de minha existência.
Posso tentar narrar aquilo que acontece fora da minha mente nesse momento, mas me encontro falho.
Permita-me então tomar esse momento para tentar criar uma cadência melódica.
Começo me apresentando, escrevendo e questionando. Levo à música a um crescendo, minhas palavras a um aumento, um som por um momento. Palavras a ordenar, páginas a folhear e então, seu olhar.
Dedico um conto, ou uma canção, para alguém como você e um romântico me torno.
Um romântico lunático que dança sozinho no meio do quarto. Batendo os pés em ritmos acelerados. Girando o cabelo que pega no rosto e entra no olho.
Quando me vem a ideia, já é tarde demais, a única música que queria dançar chega a um fim e nem descrevê-la fui capaz.
Se comecei cansado, consegui reviver. Apesar de agora hiperventilar, pelo menos dancei, pelo menos minha mais singela forma de arte, tentei.
Enquanto a próxima música começa, só me jogo na cama. Agora, realmente cansado demais para dançar, porém, não cansado de criar. Inspirado.
Pensando, acompanhando esse fluxo de consciência que toma conta de mim em um dia tão mundano e monótono. Talvez seria essa a minha forma de combater o tédio. Ouvir música e deixar meu corpo desenhar cada nota ao redor de si mesmo.
Fecho os olhos.
As notas finais de mais uma música me embalam. Sinto o corpo flutuar e já sei que estou prestes a Morfeu abraçar.
Meu corpo cansa, cansa como cansa um músico, como cansa o vento, como cansa a alma. Cansa como minha mente havia cansado.
Será assim então que concluo minha história? Um bailareco confuso de sombras e reflexos e palavras que se finaliza como o cair da noite em uma cama fresca após um dia abafado?
Se o silêncio da noite me embalar como qualquer canção já embalou, não reclamarei.
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